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O pé e a chuva





Tais se assustou ao ouvir  uma  voz estranha de uma  mulher perguntando:
__Senhora Tais da Silva?
__Sim.
_    _Estou falando do hospital, sua mãe , D. Silvia. levou  um tombo, teve o pé quebrado  em dois lugares e  está se   preparando para  ser  operada hoje ou amanhã, dependendo da equipe disponível;
__Meu Deus! Em que hospital?
A  enfermeira deu o nome, o endereço  enquanto Tais  anotava num bloco de notas.
__Obrigada, estarei  aí em menos de 20 minutos.
Taís balançou a cabeça imaginando  como sua mãe teria levado o tombo, chamou  um táxi, indicando o endereço do hospital, agradecendo aos céus por ser  particular, por  causa  do plano de saúde que era careiro, e que era referência de alta tecnologia. assim que  chegou , pagou a corrida, entrou correndo, foi à recepção, pedindo autorização para o quarto em que  a  mãe estava internada. Dada a autorização, entrou no elevador, parou  no andar desejado, foi olhando as portas pelo  número do quarto, até  encontrá-lo, respirou fundo, bateu a porta , ouviu uma voz fraca da  mãe:
__Entre!
Taís entrou no quarto, viu a mãe deitada na cama, com o  rosto branco, cheia de dor , chegou perto dela e beijou-a  na  testa, perguntando carinhosamente:
__Como  está, mamãezinha?
__Cheia de dor , minha filha, vou precisar colocar  os pinos no meu pé.
Tais olhou para a perna enfaixada , perguntou curiosa:
__Como foi o tombo?
__Estava no trabalho, faltou energia, como faltava uma  hora  do expediente acabar, o chefe nos dispensou, _ estava distraida conversando com minha colega , enquanto descia a escada, e  tropecei na ponta do degrau da escada.
__Pois  é, um deles tinha uma falha e pisei e meu pé foi  como uma alavanca, e  por sorte era o último degrau, na  hora nem senti, mas quando tentei ficar de pé, ouvi e senti um estalo, e me segurei num dos corrimãos para me sentar na  escada, minha  colega  ficou apavorada, nervosa, chamou a SAMU e fui levada para a emergência.
Sílvia riu com dor, olhando para a filha com carinho. Ouviram as  batidas na porta, dois homens, com a maca, vieram buscar a  senhora para ser operada. Tais deu  beijo na testa da mãe, ela sorriu.
Duas horas depois, Tais escutou o barulho da porta do quarto abrir, vendo que os homens estavam vindo com a mãe que ,sedada, dormia a sono solto, os  homens a  transferiram para  a  maca  fixa do quarto , levantando as grades de proteção. Tais  olhou para  a  perna engessada, fez carinhos no cabelo da mãe, quinze minutos se passaram, o médico chegou,  avisando que a cirurgia havia sido bem sucedida:
__Colocamos dois parafusos do  lado esquerdo  e  do outro, uma placa com cinco parafusos.Ela não poderá pisar  antes de completar 90 dias, para calcificar  a fratura. Depois desse tempo, deverá fazer fisioterapia por algum tempo.
__Como a senhora não pode  andar nesse tempo. vai ficar  na minha casa até ter alta médica, falou Taís.
__Não gosto de licença médica, mas se  não posso andar , fazer o que?


Assim , Silvia se instalou na casa da filha, teve toda  mordomia, até engordou cinco quilos. Todas as semanas, ia até a  clínica , primeiro para fazer os  curativos, depois para fazer dez séries de fisioterapia,e contrariando a previsão do médico, após  2 séries teve  alta , voltando ao serviço 4 meses  depois,
Os colegas ficaram contentes  pelo  retorno de Silvia que era muito legal e adorava brincar.
Silvia percebeu que não podia mais andar com sapatos de salto, teve que se conformar em andar com sandálias baixas.
Algum tempo depois, operou novamente para tirar os parafusos e a placa. Quando foi para casa, sentiu dor  no pé, como se estivesse  torcido, ficou  mancando por 10 minutos, depois passou num instante, a dor sumiu, e foi na varanda observar a chuva cair fina, mas foi rápido.
Uma semana depois , quando se levantou da cama, sentiu  muita  dor, como se estivesse quebrado, mas continuava mancando. porém, a dor  era  insuportável, e se estremeceu ao ouvir um trovão, de  repente  veio um temporal e a dor sumiu. E Silvia estranhou que a dor sumisse de repente.
Quando chegou o aniversário de seu neto Cleiton, que faria 15 anos, deu de presente uma excursão em família a um hotel,
Todos se animaram com o passeio, quando estava quase  no fim da  tarde, Silvia sentiu aquela dor de novo no pé, começou a mancar, deixando Tais preocupada, e ela a  levou ao quarto para fazer a massagem,meia hora depois , a dor passou, e  saíram do  hotel. Assim que chegaram na  porta , vendo que a chuva caia, e desanimou  a família.
No jantar, entre os quatro, Tais estava contando da dor do pé da mãe, estava seriamente preocupada com essas dores que aparecem e somem de repente.
Cleiton ficou pensativo sobre essas estranhas dores no pé que fora operado,e curioso, perguntou a avó:
__Vó, essas dores aparecem nos dias específicos?
Silvia não entendeu:
__Como assim?
__Não sei, é muito estranho essas dores  aparecem ora fracas, oram fortes, depois desaparecem como  fumaça? E sempre  no mesmo pé que  a senhora operou?
João bateu na  testa e  disse :
__Já sei.
__O que ,pai?
__Escutei um dia desses que quando a pessoa faz cirurgia de ossos, em qualquer  lugar tem mais sensibilidade quando vem a chuva.
Silvia pensou, lembrou dos dias em que sentira dor e passava quando a chuva caía.
__Acho que é isso mesmo, nos dias em que  senti dor  veio logo depois chuva.
__Vamos observar .
__Sim, vou  ver se é  isso mesmo...
Voltaram da excursão no  dia seguinte.
Três dias depois, Silvia sentiu uma dor  muito forte, se lembrou da  conversa de João, e mancando foi até a varanda, e  cinco minutos depois um temporal veio furioso e a dor passou.
Silvia riu dessa coincidência, ligando logo para João e respondeu com ironia:
__Bingo!
João não entendeu, fazendo Silvia perguntar?
_-Está chovendo na sua casa?
__Espere um pouco,  nossa, um temporal feio!
__Pois é. O  meu pé previu uma forte chuva.Meu pé faz previsões meteorológicas!
__Que bom contar com o pé da minha sogra favorita.
Os dois  riram.
Silvia desligou o celular , rindo, ficou olhando o temporal forte e se sentiu mais tranquila, não precisava mais ir  ao médico, ela já sabia. O pé previa a chuva. Sorriu feliz!


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