Há homens que têm patroa. Ela sempre está em casa
quando ele chega do trabalho. O jantar é rapidamente servido à mesa. Ela recebe
um apertão na bochecha. A patroa pode ser jovem e bonita, mas tem uma atitude
subserviente, o que lhe confere um certo ar robusto, como se fosse uma senhora
de muitos anos atrás.
Há homens que têm mulher. Uma mulher que está em casa
na hora que pode, às vezes chega antes dele, às vezes depois. Sua casa não é
sua jaula nem seu fogão é industrial. A mulher beija seu marido na boca quando
o encontra no fim do dia e recebe dele o melhor dos abraços. A mulher pode ser
robusta e até meio feia, mas sua independência lhe confere um ar de garota,
regente de si mesma.
Há homens que têm patroa, e mesmo que ela tenha
tido apenas um filho, ou um casal, parece que gerou uma ninhada, tanto as
crianças a solicitam e ela lhes é devota. A patroa é uma santa, muito boa
esposa e muito boa mãe, tão boa que é assim que o marido a chama quando não a
chama de patroa: mãezinha.
Há homens que têm mulher. Minha mulher, Suzana.
Minha mulher, Cristina. Minha mulher, Tereza. Mulheres que têm nome, que só são
chamadas de mãe pelos filhos, que não arrastam os pés pela casa nem confiscam o
salário do marido, porque elas têm o dela. Não mandam nos caras, não obedecem
os caras: convivem com eles.
Há homens que têm patroa. Vou ligar pra patroa. Vou
perguntar pra patroa. Vou buscar a patroa. É carinho, dizem. Às vezes, é
deboche. Quase sempre é muito cafona.
Há homens que têm mulher. Vou ligar para minha
mulher. Vou perguntar para minha mulher. Vou buscar minha mulher. Não há
subordinação consentida ou disfarçada. Não há patrões nem empregados. Há algo
sexy no ar.
Há homens que têm patroa.
Há homens que têm mulher.
E há mulheres que escolhem o que querem ser.
Martha Medeiros
https://www.pensador.com/cronicas_martha_medeiros/
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