PRÓLOGO

Passei para o ultimo ano científico, estava na escola para renovar a minha matrícula, preocupado com os estudos para Medicina, sabia que uma escola pública como essa, não iria me dar base para maiores conhecimentos. Foi quando ouvi um psiu da secretária:

     __Oi? Desculpe-me, estava distraído, o que a senhora quer?

     __Sua identidade, por favor.

     __É para já!

     Entreguei a minha identidade a secretária, para preencher os dados no novo formulário do novo ciclo.

     __João Alves de Lima?

     __Sim, sou eu.

     A secretária disse:

__Para conferir que você é realmente o João, me diga o nome de sua mãe.

     Olhei para a moça, era funcionária nova com certeza, pois todos na escola conheciam a minha mãe, que trabalhava no posto da gasolina, logo após a escola, respondi com orgulho:

__Maria Aparecida Alves de Lima, Cida do posto.

A moça olha o nome da mãe e disse:

__Confere. E o nome de seu pai?

Rindo atrás de mim, estava meu pai, fazendo pequenos reparos, a moça não achou graça nenhuma na risada do homem, me encarando séria sem se importar com as risadas de meu pai. Eu disse apontando para meu pai:

__José de Lima, Zé pedreiro. A moça ficou sem graça e engolindo em seco, responde :

__Confere.

A moça tirou a cópia, me deu e entrou  na  outra sala, envergonhada.

     __Pai, já vou indo, mas não precisava rir da moça.

     __A moça se chama Renata, não se preocupe, vou entregar um buque de flores que tem no jardim da escola, pois além de ser pedreiro, sou ótimo jardineiro e com certeza, Renata rapidinho vai se esquecer dessa risada, pode ir tranquilo. Vai ao posto?

     __Sim.

     __Avise a sua mãe que minha sogra maravilhosa vai nos visitar ,na nossa casa.

     __Vó Abigail? Espero que traga os brigadeiros.

     __Deixe de modos, rapaz__Zé riu gostosamente.

     Eu  saí da escola, andei um bocado e entrei no posto onde minha  mãe é frentista, dei-lhe um beijo estalado na bochecha, dando o recado do pai:

     __A vó Abigail vai à nossa casa hoje a noite.

     __Sua avó é teimosa, em morar na casa sozinha, está com quase oitenta anos, mal se aguenta em pé.

     __Sim, eu sei disso, mãe. Mas a teimosia é mal de família, como a senhora teima e não cede.

     Mamãe riu, me perguntando:

     __Já renovou sua matrícula?

     Sentei numa cadeira na porta da loja, respondendo com um sorriso.

     __Sim, com uma moça que não conheço. Assim que a tal Renata, como se chamava a moça, perguntou o nome do papai, ele estava ali atrás de mim pintando uma das paredes e ele riu, a moça ficou envergonhada.

     Só mesmo seu pai para rir de todos, com todos. Eu amo muito o seu pai, que é um bom companheiro, bom pai e minha mãe é apaixonada pelo meu Zé!

     Eu ri, enquanto minha mãe foi atender um motorista, fiquei pensando.

     Eu estudo de manhã, sou aprendiz como técnico a tarde, a noite tinha tempo para estudar, porém, eu sabia que passar em Medicina teria que estudar muito e na escola pública não recebia um ensino mais avançado, e o dinheiro que recebia  do meu trabalho era pouco, pois sou menor de idade, o que  não me permitia pagar um cursinho reforçado, minha mãe me encontrou  pensativo. Antes que ela me perguntasse, eu contei a ela a minha preocupação.

     Mamãe suspirou após me ouvir, respondendo:

     __Desculpe-me filho, com meu salário e mais com o de seu pai, não temos condições de pagar um cursinho.  Nessa aula de aprendiz você ganha apenas cinquenta reais para o mês todo.

     __Eu sei, mãe. Sei que vai ser difícil estudar só com as matérias dadas na escola pública, como já disse a senhora, tentarei a vaga como cotista, por tirar boas notas e ser de baixa  renda. Vou tentar buscar essa vaga.

     __Tenho fé que você consiga.

     __Amém, mãe. Obrigado por me ouvir.

     __Que nada, sou sua mãe e sua amiga, pode contar sempre comigo.

     __Obrigado, minha melhor amiga!

     Mamãe olha para mim rindo, vendo que um carro estava entrando no posto, disse:

     __Vou trabalhar, até mais!

     Dei um beijo na minha mãe, me despedindo dela.

     Andei meia hora até chegar a uma casinha simples que comportava apenas quatro cômodos. A sala, onde eu durmo, cozinha, banheiro e quarto de meus pais, o meu guarda roupas tinha apenas duas portas e quatro gavetas, e ficava num canto da sala.

     Sentei no sofá cama, fiquei  pensando por horas a fio, planejando o que iria fazer.

(meu livro de romance não publicado)   

 

    

     \