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VIDA REALIZADA





Silvia olhava a janela de seu escritório, sorriu ao se lembrar da dura batalha que enfrentara para vencer as barreiras da classe social e da cor da pele.

     Foi uma longa jornada,  tudo pelo preconceito.

     Silvia escutou bater a porta, respondendo tranquila:

     __Entre!

     __Com licença,  Meritíssima, está aqui o processo de um cliente que entrou em processo contra a loja por injúria racial e racismo.

     __Obrigada , Dona Elizabeth. Vai almoçar?

     __Sim, quer vir almoçar comigo?

     __Sim, desejo me relaxar, para ler esse processo de quantas páginas...? __a secretária riu e respondeu

     __207 páginas, rsrsrsrs.

     __Pode rir, Dona Elizabeth, a vingança chegará, hihihi.

     As duas foram a um restaurante simples, por ali,  não precisavam trocar formalidade.

     __Ai, Beth, como é bom comer essa comida gostosa.

     __Muito gostosa mesmo, Sil.

     As duas se conheceram desde que Silvia começara a trabalhar no fórum,  não se largavam.

     A amiga desabafou:

     __Menina, o meu filho se separou, me dá pena de vê-lo sofrendo, além do mais, está desempregado.

     __Por que o demitiram?

     __Corte de pessoal.

     __Esse Brasil não vai para frente.__de repente, a conversa foi  interrompida por uma gritaria da cliente do restaurante.

     __Não vou entrar, enquanto não tirarem essa macaca almoçando feito gente.

     Silvia congelou e olhando fria para os seguranças, eles entenderam o recado.

     __A senhora está presa por ter feito injúrias com a Dra. Silvia Brittes. A mulher fica branca. Teria ouvido bem, os seguranças falarem doutora? Em seguida, caiu em gargalhadas, uma negra doutora? A mulher se empertigou, ignorando os seguranças, exigindo que retirassem.

     A PM chegou, essa quando a vê, exige que retirasse a mulher, ia dizer macaca, mas se conteve.

     A PM olhando para Silvia, perguntou irônico:

     __Quando chegamos aqui, ouvimos a senhora gargalhar. Nos conte para nós  rirmos  também.

     __Esses seguranças disseram que a mulher negra que está sentada naquela mesa, chamaram de doutora, _a mulher esperava que a PM risse também. Um dos soldados disse sério:

     __Ela é realmente doutora, aliás, é juíza dos Direitos Humanos e de Combate ao racismo.

     A mulher entrou em choque, os policiais a prenderam e encaminharam a delegacia.

     Os clientes bateram palmas, Silvia aquiesceu com a cabeça, chamando o garçom para que fechasse as contas.

     O gerente, disse que o almoço ficaria  por conta da casa. Silvia pensou em recusar, mas, se ele um dia  precisar dela? Uma mão lava a outra, disse:

     __Obrigada, Sr. Jonas, se precisar de mim, pode contar comigo.

     __Mas, a senhora não vem mais  almoçar aqui?

     __Sim, claro que sim, por quê?

     __Por causa desse escândalo, receei que a senhora não viesse mais.

     __Sr. Jonas, estou calejada desde que me entendo por gente, escutei injúrias raciais, atitudes de racismo, difamação. Não é esse escândalo que vai me intimidar, pode deixar.

 

(meu livro de romance não publicado)       \


 

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