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SORVETE HUMANO




Ai, justo a empregada entrou de férias, e minha geladeira está com o congelador cheio de gelo, quase não dá para ver o que tem de dentro.

 

Não dá para tirar as coisas fora da geladeira. Mãe foi trabalhar, pai foi a rua, filho faculdade... Pensei, pensei. Ah, ideia genial. Vou comprar gelo, mas, ui, vou ter que carregar aquele saco de gelo com as minhas mãos? Ah, me lembrei do carrinho de compras, problema resolvido. Peguei o dinheiro, fui à rua, entrei na loja onde se vendem sacos de gelo, o rapaz colocou o saco de gelo como se fosse leve, ufa, ainda bem, né?

 

Mas, quando fui puxar o carrinho, caraca, que pesado, puxei com força, quase tropeçando no degrau, ui... a bendita roda passou por cima do meu dedão.

Puxo com força, cai no buraco, levanto o carrinho com o meu peso, ainda bem que a casa fica em lugar próximo... Demorou, estava com o rosto roxo de tanto puxar, ugh, difícil levantar o carrinho pelo degrau,.

Sem forças, com o dedo trêmulo, apertei o botão do elevador, subi com ele, fui até a porta, cadê a chave? Ai, não esqueci na loja.  Olhei para o carrinho, mandei ficar, desci cansada, caminhando com passos tropegos, entrei na loja, o rapaz disse que eu não deixei chave nenhuma. Epa! Coloquei a mão na calça, puxei a bendita chave, voltei e cadê o carrinho? Segui o caminho molhado até outro apartamento, toquei, uma senhora pergunta;

__O que você quer?

__Devolva o meu carrinho de gelo!

__Me acusa que roubei o carrinho?

__Sim.

__Olha, vou chamar a polícia!

__Pode chamar, ela vai ver o caminho da água no chão!

__Hum, sei. Sim, peguei, mas achado não é roubado! Tchau!

Bati na porta, os vizinhos abriram a porta. Enfiei a chave na porta da casa.

Ai, e agora? Tamborilando os dedos na porta da geladeira, cai um ímã, me abaixo e ...o quê? Um cartão de venda de sacos de gelo, ah.. essa não, tanto esforço para nada e ainda ser roubada pela vizinha ladra.

 

Telefonei para pedir um saco de gelo, esperando o homem do gelo chegar, bateu a porta, paguei e perguntei cadê o saco? O homem apontou para o chão e se despediu rápido!

Que droga! Esse saco é pesado demais!

Tive que me agachar, puxar com força pelo chão da sala, com trilhas de água, levei até o tanque, olhei para o tamanho do tanque, Afe! Me abaixo, meus braços se gelam, faço força com o peso, e jogo de qualquer forma o saco. Meus braços, meu peito e meu rosto ficam formigando com o gelado do saco.

 

Cortei o saco e pedras se soltaram, ai, meu dedão de novo!

Capengando, fui ao banheiro, tomar banho quente. Ah, que delícia!

Toda dolorida, fui à cozinha,

Estava tão cansada, mas tirei as coisas da geladeira depressa, enfiando tudo no gelo, ah, geladeira vazia, tirei a tomada.

Fui colocar luvas para esquentar as minhas mãos, meu dedão roxo, fui dormir de tão dolorida que fiquei.

Acordei, chão molhado, geladeira com cheiro ruim.

Sequei com pano, limpando as sujeiras.

Pronto! Geladeira limpa, mas espere aí, tem uma sujeira no canto, estiquei os braços, não dava para alcançar! Olhei, ninguém. Está certo, vou entrar rapidinho, sair de dentro da geladeira, rápido, entrei, limpei a sujeira, com um sorriso de satisfação, mas... esqueci que a porta da geladeira é automática!

A empurrei para fora, nada!

 

Senti que ligaram a geladeira,

Gritei, ninguém escutou.

Fiquei lá, tremendo de frio, meus cabelos começaram a gelar.

Estava tão calmo, a geladeira me dando sono.

De repente, a geladeira é aberta,

Pai, mãe e filho com seus dentes de fora .

Filho pergunta:

__Vamos tomar sorvete?

__Sim, vamos.

Olharam para mim com olhos gulosos,

Saí da geladeira, correndo para debaixo do chuveiro e ouvindo as gargalhadas.

 

 


 

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