Estou viva
Escrito por
Denise Fonseca
Ser uma pessoa surda já é difícil, pois
não ouvir é complicado, e se tem pouca acessibilidade à internet, aos
mensageiros, aos vídeos... Mas ser surda e cega diminui bastante essa acessibilidade.
A vida muda em tudo.
As pessoas cegas dependem mais e demais
das outras pessoas.
Digo isso porque sou surda e cega.
Desde o ano passado, minha vida mudou
em tudo, na verdade, de 15 anos para cá ela vem mudando.
Nasci surda e cega de uma vista, até aí
nada demais. Corria, brincava, lia, estudava, até dirigia meu carro (os outros
até me elogiavam). Tive um filho.
Em 2008, comecei a estudar de novo e
fui fazer o segundo grau outra vez, pois não havia completado na época certa.
Eu desejava sair da empresa em que trabalhava, pois as pessoas não valorizavam
o meu trabalho. Um ano antes de voltar a estudar, em 2007, eu comprei um apartamento.
Tinha 38 anos de idade e já era hora de me tornar independente e fazer tudo
sozinha.
Eu não gosto de falar dos meus
‘’casos’’, pois os problemas são meus e de ninguém mais.
Tive AVC,
não dirijo mais, desde 1996. Em 2007 me mudei. Em 2008 tive uma uveíte. Desde então,
estou parada, não trabalho mais fora de casa. Minha visão, que até essa época, era
de oitenta por cento em um dos olhos, diminuiu bastante e passou para menos 5
por cento.
Foi sumindo a telespectadora que
interagia com muita gente, até com atores, como José de Abreu, como Mario Lago
Filho e Léo Jaime. Fui saindo do ar. Aliás, com esse último, eu fiquei chateada,
quando ele tuitou as minhas mensagens que estavam sem vírgulas, sem pontuação...
Eu até pedi a um outro senhor que tem muitos seguidores para que conferisse o
número de um milhão se seguidores de Léo Jaime... Penso que não é preciso se
dizer nada para o outro ser feliz. Não me importo em ter um grande número de
seguidores, o que me importa é ver o outro feliz, respeitando a todos.
É... chega de falar dos outros. Eu
estou escrevendo por mim.
Eu tinha facilidade de ler as letras. Procurava
pegadinhas na internet; pesquisava as piadinhas e escrevia no meu blog, uma
espécie de revista semanal. Nele eu fazia as minhas próprias críticas aos
políticos, lia notícias, homenageava gente famosa, autores de livros...
Desde junho de 2022, eu tive várias
lesões na córnea. Minha visão se tornou mais opaca ainda, hoje vejo muito pouco.
Desde então, dependo mais do que queria dos outros.
Estou indo ao IBC (instituto Benjamin
Constant), escola para cegos. Vou lá para aprender a ler e a escrever em braile,
aprendo também a me orientar a ser mais independente. Faço atividades que me
ajudam a passar o tempo. Lá, a professora sempre elogia a minha capacidade de escrever
e ler em braile. Só que não tenho a máquina de escrever em casa (custa seis mil
reais e eu sou aposentada por invalidez) O que me ajuda a passar o tempo é escrever
livros, que invento sem parar. Mas cansa muito e cometo erros, por causa da
posição das teclas. Quando acabo, meus textos têm que ser corrigidos pela
revisora (minha mãe). Escrevo sem parar livros e livros...
Antes de ter tido a lesão, fazia minhas
próprias capas dos 30 livros que escrevi.
Depois que tive lesão, não dá mais para
criar capas. Mal consigo ler, pois o fundo é preto e as letras brancas.
E os e-mails os SMS estão no celular. Peço
para que limpem para mim.
Peço para colocarem uma nova página para
que eu possa escrever outro livro.
Peço para
que leiam para mim.
Peço ajuda
para tudo... Até o que eu não peço fazem por mim.
Eu disse a todos ano passado que
postarei vídeos para mostrar que estou aqui, viva na terra e não ‘’sumida’’. Alguém
está ocupado demais e eu não gosto de incomodar ninguém.
Tenho amigos, marco encontros, mas eles
não podem. Eu os respeito e muito...
Sou um ponto preto no meio de um mar de
gente branca. Estou ‘’viva’’, porém sumida para muitos...
Cansa... cansa o tempo todo. Cansa
mesmo viver desse jeito. Mas eu resisto!
Atenciosamente
Abraços aos amigos do facebook, do Twitter e do Instagram!
Saudades e
para vocês ainda estou aqui e viva
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