Para aqueles que não me conhecem, minha condição atual é de
surdocega, oralizada, aluna do Instituto Benjamin Constant (IBC).
Estou aqui para falar de muitas coisas.
Para explicar a primeira delas vou repetir a famosa frase da
escritora Conceição Evaristo, “os negros são invisíveis na sociedade”. E embora
eu não seja negra, também sou invisível na sociedade, pela minha condição de
surdacega. Todos nós somos invisíveis na sociedade.
Aqui no Brasil, não existem escolas exclusivas para
surdocegos, somente no IBC. Na verdade, o IBC é uma instituição para cegos,
assim como o INES destina-se à educação de surdos. Existem escolas para acolher
pessoas com deficiências físicas e mentais, mas cadê uma escola para
surdocegos?
Uma vez, tive uma conversa com uma docente do IBC. Perguntei:
“tem crianças e adolescentes surdocegos estudando aqui?” Ela me respondeu:
“quando pequenos são estimulados, mas depois que crescem, são encaminhados para
o INES. Entretanto, o INES tenta encaminhar de volta para o IBC”. Eu, então
respondi: “você não acha que deveriam criar uma terceira casa somente para surdocegos?’’,
pois as crianças e adolescentes precisam, ser alfabetizados. Então, está mais
do que na hora de se criar uma escola somente para surdocegos.
A sociedade vê a pessoa cadeirante, a pessoa com deficiência
intelectual, porque essas deficiências são percebidas só pelo olhar, mas as
pessoas não veem os surdos, os cegos e os surdocegos porque não percebem suas
dificuldades. Somente no Brasil, há cerca de 40 mil pessoas com surdocegueira.
Não me calo. Penso que a culpa está na falta de uma política
que se preocupe em olhar e cuidar dessa parcela de pessoas, com mais atenção. A
própria sociedade faz isso, pois é capacitista.
Bom, vou me indo. Talvez esse texto seja mais um desabafo. A educação
não é valorizada e, no Brasil, os docentes são mal pagos e trabalham em
péssimas condições. Mas a esperança de usar as palavras para tocar alguém é
grande, pois precisamos da ajuda de todos na luta por uma educação mais
inclusiva. Não posso deixar essas coisas presas na garganta, preciso escrever e
agir.
Denise Fonseca, Surdocega, oralizada. Escritora.
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